Advogada e historiadora Tomires da Costa fala sobre "racismo reverso" diante da lei e da história

O tema tem sido bastante discutido depois de alguns acontecimentos do BBB 21

Foto: Oxente Brasil

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Se tem uma pauta que tem rivalizado nos noticiários com a covid-19 no Brasil, é o BBB 21. Fazia bastante tempo que uma edição não era tão comentada no país. Podemos até não estarmos assistindo pela rede Globo, mas é impossível não acompanhar pelas redes sociais. Nomes como Lumena, Karol Conká, Juliette... aparecem constantemente em nossos feeds. O que aconteceu para um reality show que há tempos não movimentava o país, está sendo tão comentado?

Desde que começou, alguns participantes tem causado polêmicas proferindo palavras de injúria, xenófobas e até mesmo sendo cruéis. Pessoas negras dizendo frases como: "Sem melanina", "desbotada" e "olho de boneca assassina", “cagada na branquitude”, “o povo dela”... Levantaram questionamentos se dentro da casa não está acontecendo racismo reverso. Mas isso existe?

A advogada e historiadora Torimes da Costa, esteve nesta quarta-feira, 24, para nos contextualizar historicamente sobre o que significa crime de racismo e injuria racial, e foi categórica:

“não existe racismo reverso, por uma questão histórica, não existe no âmbito legal”.

A historiada contextualizou sua fala e explicou que o racismo tem todo um contexto histórico, “ faz um pouco mais de 133 anos que foi abolida a escravidão, tivemos mais de 300 anos de escravidão no Brasil, depois da abolição o povo negro continuou a ser marginalizado, vimos a própria justiça a favor da escravidão e a discriminação do negro, vimos políticas de branqueamento”. Não é apenas uma frase solta que pode-se configurar racismo. E explica que quando a frase atinge apenas o indivíduo, sem o coletivo, se enquadra mais em injúria racial.

A advogada ainda completou dizendo que apesar deles proferirem palavras de discriminação, a maioria das falas não são sobre racismo, pois racismo se configura quando um grupo se sobrepõe como superior sobre outro ao ponto de subjugá-lo. Porém, deixou claro que não significa que as frases ditas pelas pessoas negras da casa, contra os brancos do BBB 21, não sejam crimes, porque são.

“Racismo reverso simplesmente não existe porque racismo configura a dominação branca sobre o negro, um grupo da classe dominante branca, elitizada, europeia, impôs toda sua dominação contra os negros escravizados na época”.

Tomires deixou claro que não está justificando as falas discriminatórias da casa, apenas que o crime é outro. Teve crime de xenofobia, contra nordestinos, de injuria racial, discriminação, preconceito.

Porém, a advogada ressaltou que no caso de Juliette, quando Karol se refere a sister como "aquele povo", nesse momento ela foi racista, pois ali, ela tratou todo o povo nordestino de forma pejorativa, não apenas o indivíduo, mas a coletividade. Tomires comentou que também ficou bastante irritada quando viu o preconceito contra nossa região, mas não justifica que as pessoas sejam preconceituosas com Karol também. Pois, esse tipo de atitude só reverbera o erro.

“Não podemos lutar contra o racismo, proferindo racismo”.

Assista à entrevista completa: